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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Liderança Militar: analogia de ideias

Por: Adalberto
Cadete da Polícia Militar de Minas Gerais
Bacharel em Ciências Sociais pela UFSCar

Nestes dias, como um aficionado pela etologia dos antropóides, ou seja, estudo do comportamento dos grandes primatas (Chimpanzé, Gorilas, Bonobos e Orangotangos), fui assistir no cinema a célebre e conhecida ficção científica “O planeta dos macacos – a origem”. Além de ser rico em detalhes do comportamento destes animais, um outro aspecto, presente na vida selvagem desses animais, porém muito mais desenvolvida e complexa na vida humana, aparece: A liderança! Logo me perguntei, após o filme: O modo como o chimpanzé personagem central, César, aos poucos abandona um aspecto inocente para ir tornando-se um líder frio e agressivo dos outros macacos, é ficção ou um caminho lógico das lideranças?
Buscando as resposta encontrei uma enxurrada de produtos que prometem caminhos fáceis para fazer gente frustrada tornar-se líder.
31 descobertas sobre a liderança”, “O monge e o executivo”, “Jesus, o maior líder de todos os tempos” e etc, são exemplos da exploração do tema. Lixo, baboseiras, ideias de aproveitadores, muitas delas enfeitadas com delírios de bondade, eis a características de muitos destes materiais. Porém, é claro que há vários que são ditos sérios em suas hipóteses. Entre eles podemos citar “A arte da Guerra”, “21 leis irrefutáveis da Liderança” e outros diversos. Contudo, resumindo, esses diversos materiais sérios elegem duas características imprescindível: O líder está em sintonia com seu tempo e seu meio, e sua história de vida desde a mais tenra idade já demonstra a característica de liderança. Será mesmo?
Voltando então a nossa pergunta inicial, relacionada com tipo de liderança do filme “O planeta dos macacos – a origem”, é possível alguém que nunca demonstrou desde o começo da vida características de liderança tornar-se líder? Parece que não, se considerarmos o que dizem as grandes literaturas da área. Infelizmente esse é o caminho mesmo, e sinto então que frustrei-te, caro leitor, em sua busca desesperada para ser líder, uma vez que sua história de vida não demonstra nenhuma característica dita de liderança e você se posiciona nas mais baixas classificações da confiança e do poder. Se você parar de ler aqui, é provável que troque os livros de auto-ajuda de liderança para o degrau abaixo, os livros de auto-ajuda para não cair em depressão. Mas calma, paciência.
Se analisarmos muitos líderes de forma fria e científica, descobriremos coisas interessantes, mas que não poderemos generalizar em leis ou mesmo descobertas. Lembro-me que uma série interessante sobre os Grandes Homens do Século XX, que reúne escritos de investigações sobre a vida destes personagens, chamada “Pró e Contra”, publicou sobre três personalidades. Três livros que descrevem três crianças, líderes do século XX, antes de tornarem-se homens famosos.
A primeira criança vivia na fazenda de seu pai, integrada à natureza, vagando entre os animais e escutando as conversas do pai com os outros fazendeiros. Uma infância mais ligada à presença de animais, bois, vacas, galinha e etc, do que no emaranhado de uma vida urbana. Contudo, as poucas conversas sobre política de seu pai com outros fazendeiros ele escutava com atenção, pois era a única coisa divertida num tempo que não havia rádio e não se sonhava com a existência da TV em massa. O menino desenvolveu-se, foi para a cidade estudar, surpreendentemente, apesar de sua infância solitária no campo, tornou-se mestre na habilidade de observação social. Foi capaz então de conduzir, de forma sedutora, toda sua sociedade à uma ditadura altamente controladora.
A segunda criança era alguém de uma sensibilidade incrível. De uma infância marcada pela dicotomia quase excessiva entre uma mãe excessivamente amorosa e um pai autoritário, emergiu nas três primeiras décadas da vida uma pessoa sensível, descrita como tímida e briguenta pelos colegas de escola. Foi marcado por tragédias como a morte dos próprios pais. Primeiro o Pai, vítima de um acidente, e depois a mãe, falecida por alguma doença. Tornou-se errante, chegando a dormir durante um bom tempo em abrigo para mendigos. Após os 30 anos venceu a timidez através da convicção de algumas ideias que formou durante os anos em que, como um quase indigente, onde não era levado a sério, sobreviveu. Tornou-se ditador de seu país, porém sua sensibilidade continuava em sua personalidade: Não gostava de flores penduradas em seu gabinete por que “apesar de belas, as plantas sofriam para ceder aquele pedaço morto de flor”, odiava também a tortura de animais, propôs e lutou para acabar com a cultura contra animais em circo.
A terceira criança era filho de um sapateiro, tinha características fortes, as vezes puxando para próximo de uma personalidade fria e calculista, outras vezes demonstrando insensibilidade e sadismo no trato com animais, torturava-os por prazer. Desenvolveu-se desta criança um jovem contestador, que chegou a ser preso na participação de uma tentativa de dar um golpe de estado. De uma ideologia com ideias de justiça social ele arrastou todos, enquanto acreditavam estar marchando para a paz, a uma ditadura cruel e sanguinolenta. Milhões morreram no esforço para fazer deste país o mais poderoso de todos, além de outras vítimas que eram apenas consideradas indesejáveis. Sua frieza continuava na perseguição de seus opositores diante do que sempre pensava “os que estão contra mim, estão contra uma ideia.”
Três crianças que partiram de pontos diferentes, com histórias de vida diferente, mas que chegaram ao poder e liderança de suas sociedades. É claro que ditadores parecem exemplos repugnantes de liderança, mas como havia dito “analisando friamente”. O que importa aqui não é a bondade ou maldade e sim a capacidade de mobilizar seus semelhantes para um objetivo, mesmo que seja concentrar poder de forma egoísta.
As três crianças não eram especiais, não nasceram iluminadas, uma delas teve início de vida no campo (uma virtual desvantagem, pois diriam os analistas que os primeiros relacionamentos de uma vida formam os neurônios da habilidade social e que crianças do campo não possuem relacionamentos em quantidade e qualidade tal que não permite o aprendizado da liderança e blablablá), outra tinha se transformado até os 30 anos em um quase indigente, sem posses, não levado a sério e frustrado.
Contudo, uma coisa parece ser inerente aos três, juntamente com outros líderes, não passaram a vida pesquisando o que é liderança. Não almejaram tal condição de início, nem se quer pensavam ser suas personalidades próximas ou afastadas do padrão de liderança, apenas formaram alguma convicção em algum momento da vida, mesmo que seja do mau ou do bem, e dedicaram-se ao ponto de chegarem a ideia de que tinham a obrigação de tomar a frente. Da mesma forma ocorre na ficção do filme “o planeta dos macacos – a origem”.
Se você que está lendo deseja algum dia assumir posição de liderança, mesmo que não tenha os chamados traços e perfil, entre no paradigma: Abandone a procura pelo que é liderança, para algum dia liderar. Como prova disso, é mais do que básico a percepção que a grande parte destes autores sobre liderança não foram realmente líderes, chegando ao máximo, o que apresentam como algo grandioso em seus currículos, a cargos de chefia em administração ou áreas correlatas. É muito fácil criar um ambiente feliz quando você é colocado em um posto oficial acima dos outros. O que é difícil mesmo é partir de baixo, segurar seus impulsos quando não lhe cabe a voz, subir nos degraus sociais, para só dali gritar uma nova ideia.
Ah, sobre quem eram as crianças descritas: A primeira, Getúlio Vargas. Ditador brasileiro, conhecido como hábil negociador entre as diferentes elites da época e defensor dos direitos dos trabalhadores. Foi o pai da industrialização e modernização do estado brasileiro de então, mesmo com a resistência que se tinha à época à essa mesma industrialização por parte das elites. A segunda criança foi Adolf Hitler, ditador alemão responsável pela morte de milhões de pessoas. Apesar de sua vida sofrida, de uma personalidade de início sensível e de uma trajetória controvérsia, sacrificou princípios éticos para tornar-se um dos maiores líderes criminosos do século XX. A terceira criança, foi Stalin. Ditador Soviético que, para alguns ideólogos, distorceu os ideários de igualdade e através de manipulação.

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