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domingo, 25 de setembro de 2011

Até que ponto o líder é amigo?




 Líder: gestor ou amigo?   

Por Claudiney Fullmann

Quando uma pessoa é levada à condição de líder, várias circunstâncias podem impactar seu desempenho e o de sua equipe. Nesse momento, bons questionamentos ajudam a entender o que acontece, como: “Por que alguém se tornou chefe?”, “Seu antecessor se aposentou ou saiu da empresa?”, “Os negócios ampliaram e a empresa criou nova vaga?”, “Houve promoção interna ou recrutamento externo?”.
Em quaisquer casos, a empresa espera que o novo ocupante da posição – não importa se é supervisor, gerente ou diretor – seja responsável por obter resultados e compartilhe os valores da empresa, basilares da cultura existente ou pretendida.
Normalmente, é atribuída a esse líder uma autoridade compatível com a responsabilidade cobrada. Começa então um novo ciclo histórico: novo chefe; novas características; novas metas; novos conhecimentos, habilidades e atitudes; novos desafios e novas expectativas, tanto da empresa quanto do ocupante da vaga e das equipes de parceiros e liderados. Mesmo os já conhecidos de casa passam a usar um novo chapéu. São cobrados e cobradores simultaneamente, mudando sua rotina.
Amizade – Acredito que os casos mais complicados são os daqueles promovidos internamente. Antes da divulgação do novo papel, eles tinham o mesmo nível dos colegas de trabalho, muitos amigos pessoais, alguns até com laços familiares, e compartilhavam dos mesmos problemas e birras com o chefe. De repente, mudam as regras – de pedra vira vidraça – e de colega passa a chefe. Como fica a amizade?
Lembro-me de um filme de guerra, do qual, embora não tenha retido o nome, fixei na mente a cena: dois militares da mesma patente estavam nos acentos frontais de um jipe quando o carona recebeu um comunicado pelo rádio, dando-lhe a notícia de que passaria a ser o comandante daquele regimento. Logo a seguir, ele pediu para seu colega parar o jipe, desceu e foi se sentar no banco traseiro, passando a dar ordens ao motorista. A atitude foi típica de marcar a posição de autoridade recém-assumida.
Isso não significa que a amizade tenha sido rompida, mas sim ajustada à nova realidade. Normalmente, quem abusa da velha amizade é o liderado, que se acha no direito de ter privilégios em relação aos demais, criando constrangimento até para o “chefe amigo”. Talvez, esse nunca tenha sido amigo de fato. É da boca para fora, não é “a coisa pra se guardar no fundo do peito”, como diz o poeta.
Mudanças – Para não haver conflito entre subordinação e amizade, há de se entender que novas regras de relacionamento passem a existir. A autoridade deve ser respeitada e até valorizada perante os demais colegas. O sucesso de um amigo é também o nosso.
Lamentavelmente, quando há uma movimentação interna, alguns que desfrutavam de posições semelhantes, ao verem um colega ser promovido, ficam enraivecidos pela inveja e se frustram ao se questionarem: “Por que essa pessoa e não eu?” ou “O que ela tem de melhor do que eu?”. Uma das primeiras providências do novo líder é “ajustar os ponteiros” com esse liderado. Já vi casos em que o desgostoso foi “florescer em outro ambiente”. Aliás, esse é um dos cuidados que a empresa deve ter quando promove um dos amigos inseparáveis ou, até mesmo, cônjuges, principalmente quando a esposa passa a ser chefe do marido.

Muitas coisas mudam. O círculo de tomadores de decisão é diferente do operacional, por mais transparente que seja a cultura da empresa. Certos sigilos estratégicos não podem ser compartilhados, com risco de vazamento de informações, até mesmo com boas intenções.
Imparcialidade – Como gestor, o líder tem de manter o equilíbrio entre os resultados globais da empresa e os resultados e harmonia da equipe. É essencial mantê-la motivada, desafiada e orientada. Ser amigo e conselheiro ajuda os membros a se desempenharem melhor, mas não pode haver “apadrinhamento” de ninguém, sob pena de ser boicotado pelos que se sentirem preteridos por não serem “amiguinhos do chefe”.
Assim como não deve discriminar ninguém, o líder também tem de aprender a trabalhar com a diversidade na equipe, privilegiando a competência e, talvez, principalmente dos amigos. Não é tratar todo mundo igual, pois pessoas são diferentes e requerem atenções diferenciadas. Saber se manter coerente e justo com todos, ser firme e proativo requer decisões difíceis, nem sempre amistosas e populares.
Em dinâmicas de motivação de equipes, uso a música Amigos para sempre, relembrando que um bom amigo respeita a autoridade do outro, contribuindo para o seu sucesso. Simultaneamente, um líder motivador também precisa estar sempre motivado para poder motivar os outros. Ele deve possuir uma força interior capaz de suportar os desafios próprios enquanto auxilia e desafia sua equipe, ter mãos de aço com luvas de veludo (ser rígido e sensível), ser resiliente ao estresse e manter o humor mesmo nas condições mais traumáticas. Encontrar esperança quando muitos já desistiram não é uma tarefa fácil, principalmente nos primeiros meses de comando, quando não existe um mentor ou coach ao seu lado.
Na nova realidade, obter resultados e ter sensibilidade para lidar com as pessoas pressupõe gestão de negócios e liderança efetivas. Para os que foram recrutados externamente, os princípios são os mesmos: seja amigo de sua equipe, mas cobre resultados.
Delegação – Para que o líder possa gerenciar o todo de maneira produtiva e, até mesmo, superar as metas desafiadoras a fim de ampliar os resultados, é fundamental a delegação. Para tal, ele precisa ter muito claro dois parâmetros:
1.    O que delegar?
2.    Para quem delegar?
Lembre-se sempre de que a responsabilidade final não se delega. Portanto, dê liberdade de ação, mas exija feedback constante do delegado sobre o que foi feito, quando e por que uma decisão foi tomada.
Na escolha do delegado, a confiança é indispensável. Nesse caso, a amizade pode ser um bom auxiliar. Quase sempre conhecemos os defeitos de um amigo, mas demoramos um pouco mais para identificar os de um desconhecido. Entretanto, sempre fique vigilante.
Prefiro os que avaliam, decidem, implantam, comunicam o que fizeram e assumam as consequências. Aprendi na vida que é mais fácil obter o perdão do que a permissão. Gosto dos que assumem riscos. Eles podem até errar, desde que acertem mais do que errem. Cuidado, entretanto, com os incompetentes motivados.
Motivação – De todas as maneiras, dedique tempo para capacitar sua equipe, para conhecer bem cada um de seus membros e treiná-los nos pontos com potencial de melhoria. Prepare-se a fim de ter gente para delegar! Um bom líder precisa ter um ponto de vista educativo para tirar lições dos sucessos e fracassos. Um líder sempre preocupado com a evolução de seu pessoal é mais que um amigo.
Motivar as pessoas com amizade sincera e monitorar resultados audaciosos, cobrando desempenhos superiores, mantém a garra de todos, aflora um sentimento de pertencer a algo e alivia a carga dos grandes desafios. Quando não se consegue o esperado, é preciso ter serenidade para avaliar onde houve a falha, identificar a causa-raiz, considerar ações preventivas que evitem reincidência e recuperar a motivação.

Procure compartilhar constantemente as alegrias do sucesso e os méritos da vitória. A amizade será espontânea e sem ansiedade e sentimentos de culpa por parte de ninguém.
                                   
                                                                                                                         Fonte: www.lideraonline.com.br



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